Arquitetura religiosa
O Concílio Vaticano II, em 1963, renovou a liturgia provocando mudanças na organização dos espaços da igreja. Agora, quem celebra não é mais o clero, e sim todo o povo reunido em assembléia. Há um retorno à simplicidade e funcionalidade e um abandono do simbolismo excessivo. O altar é o centro do templo e deve ser único e estar próximo do povo, que se reúne ao redor dele.
As novas igrejas devem ser construídas para atender a liturgia renovada,e quanto às igrejas antigas, são orientadas para que sejam conservadas e adaptadas. O núcleo da igreja é o espaço celebrativo. Nave (lugar onde se reune a assembléia) e presbitério (local onde se desenvolve as ações litúrgicas) juntos traduzem o significado da igreja durante a celebração dos católicos.Na organização da igreja, três peças litúrgicas merecem a atenção: o altar(mesa da eucaristia), o ambão(mesa da Palavra) e a cadeira da presidência(sédia ou cátedra). A assembléia se reune em torno do altar,do ambão e da cadeira da presidência. Estes elementos decidem através de uma adequada inter-relação, a organização do espaço para que se realize uma celebração litúrgica.
A luz como instrumento na ambientação
Na ambientação de uma igreja, deve-se levar em conta que sentimentos e emoções fazem parte do encontro do ser humano com o Divino. Todos os elementos na igreja tem uma específica presença no espaço e um significado simbólico. Na intenção de sugerir mensagens e sentimentos de espiritualidade, a iluminação incorpora os elementos do espaço que estão na arquitetura, nos elementos artísticos, nos ornamentos e objetos litúrgicos. A iluminação deve ser concebida de tal modo que não distraia o fiel, e sim que o ajude a meditar.
O uso da luz natural faz parte de uma estratégia arquitetônica. A maneira como a luz entra e interage com a forma e o espaço cria ambiências na igreja. A entrada indireta de luz e sua inter-reflexão nas superfícies produzem um ambiente com iluminação difusa e relaxante que favorece a calma interior, propiciando o recolhimento e a oração. Uma focalização de luz com maior brilho no presbitério é desejada para dar destaque e guiar o olhar dos fiéis.
Um feixe de luz pode chamar a atenção para determinado lugar no interior do edifício, como um objeto ou uma superfície, assim como também pode representar o aspecto simbólico da luz, uma luz que vem de cima, uma luz divina.
A iluminação artificial é utilizada como um importante instrumento da ambientação.Efeitos visuais criados com diferentes formas de aplicação de luz dão expressão ao espaço e podem ser utilizados. Os efeitos de luz e sombra valorizam a percepção do espaço.
A não-uniformidade de luz e a baixa intensidade luminosa ajudam no relaxamento e privacidade e podem ser usadas nos momento de recolhimento e oração individual.Por outro lado, maior intensidade na iluminação e uniformidade no local da assembléia dão um aspecto de ambiente festivo, ideal para os momentos de louvor e canto.
Por meio da utilização da luz, os espaços podem adquirir diferenciação de acordo com a importância, estabelecendo uma hierarquia com diferentes níveis de iluminação. Graduações de brilho criam ambientes diferentes e o brilho concentrado atrai a atenção, mostra um caminho.
Um efeito discreto de claro-escuro, uma graduação de luz e sombra em que partes com mais brilho tem função maior, reforçam a organização espacial. No momento da celebração da eucaristia, é desejável a utilização de luzes de destaque no presbitério para criar focos de atenção e uma luz mais difusa, confortável e uniforme no espaço da assembléia. Mesmo com todo o interior da igreja iluminado, o presbitério, local onde se desenvolvem as ações litúrgicas, deve ser o local de maior brilho.
Uma iluminação dirigida às três peças litúrgicas fundamentais - altar,ambão e cadeira da presidência-evidenciam os objetos e também as ações desenvolvidas neles.Porém,deve-se evitar um grande contraste entre presbitério e nave para que não se crie uma separação entre esses dois espaços. Nave e presbitério juntos é que traduz o significado do espaço na celebração, portanto, a iluminação deve conectar estes espaços, jamais separá-los.
A nave pode ter uma iluminação para uso diário e outra para grandes celebrações. O clima festivo dado à celebração é criado com maior intensidade de luz na nave. Ao contrário, o clima de recolhimento se dá com baixa intensidade de luz. Além das orações comunitárias, existem as individuais. Para as orações individuais, uma boa iluminação é aquela que remete as pessoas à introspecção.
A ambientação pode ser realizada com pouca quantidade de luz no lugar onde se encontra o fiel, e uma luz direta com mais brilho no altar, o centro da igreja. No caso das devoções ao santo, é recomendável uma iluminação mais dramática dirigida à imagem.
Aspectos funcionais
Na iluminação do espaço celebrativo busca-se atender a quatro objetivos: favorecer as ações litúrgicas; criar uma atmosfera apropriada para a meditação, oração e celebração; valorizar os elementos que constituem o espaço; e garantir o conforto visual. As formas básicas de distribuição de luz usadas nos projetos em geral também são usadas na iluminação de igrejas tais como:iluminação geral; de destaque ; e de tarefa.
A iluminação artificial pela sua própria tecnologia, oferece muitas possibilidades. Associam-se focos de luz direta com difusa nos pontos de atenção. Aplica-se o nível recomendado de luz e uniformidade no plano de trabalho. Direciona-se luz às paredes, tetos e elementos arquitetônicos, como complemento à iluminação geral. Trabalha-se com luz, sombra, forma, texturas, cores e também com os espaços. A iluminação artificial pode valorizar a arquitetura, os elementos litúrgicos e simbólicos e ainda sinalizar os espaços e objetos que se quer evidenciar. Existem igrejas onde o local do presbitério tem muita informação, o que é muito comum em igrejas antigas. Neste caso, deve-se ter cuidado com o que iluminar e com que intensidade de luz. Um contraste muito grande poderá desviar a atenção dos fiéis na hora da celebração.
A nave onde ficam os bancos, é o local onde os fiéis rezam, cantam, escutam a Palavra e lêem os ofícios. Assim, justifica-se uma iluminação geral e uniforme, com nível suficiente para a realização da tarefa de leitura. Dependendo do projeto, pode-se criar um clima de mistério usando luz e sombras, mas isto não deve ser feito no nível de leitura e sim nos espaços vazios, ou num nível acima das pessoas.
Uma iluminação muito intensa não é acolhedora nos momentos de escuta e reflexão. Por outro lado, uma maior intensidade de luz é requerida nos momentos em que a assembléia é o sujeito da ação litúrgica.
Com os avanços tecnológicos em relação aos sitemas de iluminação já se tem condições de produzir ambientes controlados pela luz, e isto pode ser aplicado em espaços onde se pretende obter diferentes níveis de iluminação.
A iluminação de uma igreja envolve iluminação diurna e noturna. Alguns ambientes podem necessitar de mais luz durante o dia enquanto outros necessitam de iluminação somente à noite ou na hora da celebração.É recomendado que o sistema de iluminação articial seja integrado com iluminação natural. Muitas são as ferramentas que auxiliam na aplicação da luz no que diz respeito ao efeito que se quer dar ao espaço ou aos elementos. O desafio é encontrar soluções adequadas para cada igreja e levar em conta todos os aspectos de forma conjunta.
A iluminação cênica nas igrejas
A finalidade da iluminação cênica nas igrejas é ressaltar a subjetividade do espaço nas diferentes zonas de atuação da liturgia. Como a liturgia é um processo dinâmico, é possível, como no teatro, destacar as ações das celebrações usuais e solenes e suscitar diferentes emoções que induzem à participação no ministério celebrado. A iluminação de uma igreja, mesmo estática na focalização, pode fazer um movimento por meio das intensidades de brilho, de acordo com as necessidades do momento.
No caso das igrejas antigas, para resolver a adaptação litúrgica, recorre-se à luz para criar um novo cenário dentro do antigo, uma nova ambiência da igreja, trazendo o "novo" altar para a cena, valorizando o patrimônio artístico,histórico e cultural, mas não vivendo a igreja do passado.
Fonte: Lume Arquitetura por Eliva de Menezes Milani
Uma matéria muito interessante e esclarecedora.
ResponderExcluirmuito bom.
Parabéns
Pedro Paulo
Muito bom seu comentário sobre espaço litúrgico. Nem tudo deve ser explicado e visto. Os sentidos humanos tem que ser aguçados num espaço verdadeiramente litúrgico para crescermos no ouvir e escutar, olhar e ver. Parabéns Ângela Abdalla.
ResponderExcluirMuito bom! Ótimo blog.
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