Este artigo muito interessante é sobre a pesquisa publicada no livro Light & Emotions: Conversations with 47 Lighting Designers, realizada entre 2007 e 2009 , dos autores Roos Molendijk , Vincent Laganier e Jasmine Van Der Pol.
A capacidade estimuladora da luz sobre a mente humana não é novidade. Sabe-se que uma grande intensidade luminosa acelera a comunicação entre os neurônios, gerando sensações como de alerta ou excitação. Assim como, de maneira oposta, a luz indireta tende a relaxar. Mas observando projetos e entrevistando lighting designers do mundo, a pesquisa Light & Emotions mostra que o alcance emocional de um projeto de iluminação acontece por camadas bem mais sutis e profundas do que a neurociência pode descrever.
O livro traz uma seleção de imagens que atestam o alcance sensorial de trabalhos que vão do ambiente mais íntimo a propostas em escala urbana, passando por edifícios corporativos, históricos e pela cenografia.
Light & Emotions mostrou aos autores que a resposta emocional é bem mais que uma preocupação secundária ou um ganho indireto do bom projeto de luz. O objetivo fundamental do ótimo design de iluminação, concluem, é justamente provocar uma resposta emocional nos usuários dos espaços construídos. "Quando geram uma reação emocional, os lighting designers tem como intenção sugerir uma interpretação do espaço. O design de iluminação não é só mostrar a proficiência técnica, mas dar aos usuários algo sobre o que pensarem", escrevem na introdução do trabalho.
Light & Emotions mostrou aos autores que a resposta emocional é bem mais que uma preocupação secundária ou um ganho indireto do bom projeto de luz. O objetivo fundamental do ótimo design de iluminação, concluem, é justamente provocar uma resposta emocional nos usuários dos espaços construídos. "Quando geram uma reação emocional, os lighting designers tem como intenção sugerir uma interpretação do espaço. O design de iluminação não é só mostrar a proficiência técnica, mas dar aos usuários algo sobre o que pensarem", escrevem na introdução do trabalho.
Uma das reflexões mais interessantes do material analisa a primazia do repertório cultural na recepção sensorial dos projetos de iluminação. As sensações de drama, de conforto, de respeito ou mesmo de estranhamento se mostram aqui muito mais ligadas à leitura do espaço do que aos estímulos considerados orgânicos e universais, como o quente, o frio, o intenso ou o suave. Na verdade, o resultado é a soma das referências pessoais do público sobre as dos próprios designers.Ou seja, uma equação em que é quase impossível identificar todas as variáveis."A luz é uma coisa muito subjetiva e é interpretada também pelas atitudes das pessoas que a veem.O mesmo design de iluminação pode ser percebido de forma completamente diferente de acordo com a hora e local",escrevem os autores.
Alguns projetos priorizam a aproximação, o alinhamento, a familiaridade por meio de recursos como a valorização da atmosfera local, com o subsídio de pesquisas culturais, sociais e até mesmo geológicas do contexto em que o projeto arquitetônico está inserido. Isto é bastante identificável em propostas luminotécnicas para prédios históricos de grande visitação como é o caso da Igreja de São Francisco de Assis, da Pampulha - projeto arquitetônico de Oscar Niemayer,iluminado por Monica Lobo.
Além da preservação do ambiente histórico, há também exemplos de aproximação que despertam a noção de confiança e atração, recriando estímulos que remetem a sensações como a curiosidade. O francês Roger Narboni conta no livro, que para começar o projeto luminotécnico de um parque em Rouen, reuniu um grupo de crianças da vizinhança e lhes perguntou o que as atrairia para o lugar. A sugestão foi uma ilha do tesouro, proposta final que deu forma ao projeto.
Há também projetos que fazem uso dos contrastes para mudar a "sintonia" do usuário.É uma necessidade notada em espaços para exposição de arte projetados para serem vistos como templos, como o Marcus Center For Performing Arts. Esse recurso também é utilizado em endereços comerciais urbanos que se propõem a acolher sua clientela criando nichos de tranquilidade dentro da realidade apressada. O style bar Escape, em São Paulo, recebeu este tratamento sensorial no projeto luminotécnico de Gilberto Frando e Carlos Fortes.A proposta começa na entrada, uma ambiente intermediário entre a rua e o salão, que recebeu galhos de árvores secas e iluminação de vapor metálico amrelada. O efeito deste cenário refletido no espelho instalado no teto criou uma densa e curiosa barreira luminosa, pela qual o cliente precisa passar para entrar no bar, experimentando uma sensação ritual de travessia, marcando bem a mudança de ambiente, como se um banho de luz deixasse para fora a agitação do dia.
Há também projetos que fazem uso dos contrastes para mudar a "sintonia" do usuário.É uma necessidade notada em espaços para exposição de arte projetados para serem vistos como templos, como o Marcus Center For Performing Arts. Esse recurso também é utilizado em endereços comerciais urbanos que se propõem a acolher sua clientela criando nichos de tranquilidade dentro da realidade apressada. O style bar Escape, em São Paulo, recebeu este tratamento sensorial no projeto luminotécnico de Gilberto Frando e Carlos Fortes.A proposta começa na entrada, uma ambiente intermediário entre a rua e o salão, que recebeu galhos de árvores secas e iluminação de vapor metálico amrelada. O efeito deste cenário refletido no espelho instalado no teto criou uma densa e curiosa barreira luminosa, pela qual o cliente precisa passar para entrar no bar, experimentando uma sensação ritual de travessia, marcando bem a mudança de ambiente, como se um banho de luz deixasse para fora a agitação do dia.
Existe também a noção de corte da realidade, da criação de um espaço suspenso, que quebra a rotina e induz à reflexão. Memoriais como o dedicado às vítimas da bomba atômica, em Nagasaki, criam essa atmosfera de silêncio diante do indizível por meio da ação poética da luz, assinada , neste caso, pelo japonês Kaoru Mende.
Alguns dos mais áridos desafios para uma "luz que stimula positivamente"mostram como lighting designers alargam com seu trabalho a fronteira expressiva da luz. A garagem iluminada por Andreas Schulz para a Novartis, na Basileia (Suíça),ilustra bem como a capacidade sensorial pode estar contemplada com maestria dentro de um projeto de alta exigência funcional."As garagens em geral são feias e escuras;as mulheres se sentem inseguras, porque nunca sabem se alguém está escondido em um canto escuro", contou Schulz aos autores da pesquisa."Criamos o que chamamos de paredes iluminadas. Nós usamos um aço inoxidável dourado especial em elementos de 8m e linhas de LED integradas nos espaços entre estes elementos. Isto ajuda a criar um espaço muito suave. As pessoas vivenciam a garagem como uma área muito agradável. Elas entendem a área e podem ver como o local funciona.Se você souber onde está, tem uma sensação de segurança neste espaço", aponta.
As possibilidades de pesquisa e desenvolvimento da linguagem emocional da luz ainda fazem parte do intangível. São muitos os códigos, referências e elementos que compõem a recepção de um projeto luminotécnico. Mas mesmo que neste momento não seja possível estabelecer parâmetros científicos para sua decodificação, percorrer o caminho experimental dos lighting designers em propostas de alcance sensível é, no mínimo, um prazeroso passeio em direção à ampliação de entendimento da mente humana.
Imagem 1 : Capa do livro LIGHT & EMOTIONS
Imagem 2/3/4/5 : Bar ESCAPE - São Paulo
Imagem 6 : Memorial Nagasaki - Japão
Imagem 7/8 : Garagem do Edifício da Novartis - Suíça
Imagem 9 : Canal principal de Hangzhou - China
Imagem 10 : Marcus Center for Performing Arts - EUA
Imagem 11 : Igreja São Francisco de Assis - Pampulha - Belo Horizonte
Fonte: Revista L+D ed.30 por Ana Weiss
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